Capacitação de professores em habilidades sociais e relações interpessoais

Cursos da UFSCar capacitam professores em habilidades sociais e relações interpessoais

Formação parte da vida cotidiana do professor, base para formação pedagógica voltada à articulação entre aprendizagem acadêmica e desenvolvimento socioemocional dos alunos

Foto: Professores participantes em encontro presencial de avaliação do curso (Crédito: Naara Alho)

Empatia, autocontrole, saber falar e trabalhar em público, lidar com críticas, solucionar problemas. Estas e outras habilidades, tão frequentemente debatidas na atualidade, compõem o desenvolvimento socioemocional de pessoas nos âmbitos pessoal e profissional, sendo reconhecidamente relevantes para a formação das futuras gerações. É possível desenvolvê-las desde a infância em processos didáticos, juntamente com a aprendizagem acadêmica?

Zilda Aparecida Pereira Del Prette, pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino (INCT-ECCE), com sede na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e docente vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPsi) da Universidade, vem, ao longo das últimas décadas, investindo justamente na elaboração conceitual, na pesquisa e na prática em habilidades sociais e relações interpessoais. O trabalho é desenvolvido junto ao seu grupo de pesquisa, de Relações Interpessoais e Habilidades Sociais (RIHS) [http://www.rihs.ufscar.br/]. “Parte desse esforço foi direcionado para questões educacionais e de ensino-aprendizagem. Com base em nossas descobertas de pesquisas e, também, na literatura pertinente, podemos afirmar que o sucesso escolar está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento socioemocional dos alunos e que ambos devem ser simultaneamente promovidos em um processo de ensino-aprendizagem-desenvolvimento”, explica Del Prette.

Para conduzir esse processo, é preciso que o professor aperfeiçoe suas próprias habilidades sociais educativas e, assim, consiga estabelecer e mediar condições de ensino que garantam o envolvimento ativo, interativo e afetivo do aluno com sua aprendizagem escolar, como explica a pesquisadora. “Definimos habilidades sociais educativas do professor como aquelas ações pedagógicas intencionalmente voltadas para planejar, conduzir e mediar interações sociais educativas com e entre os alunos, bem como para avaliar a qualidade e os resultados dessas interações.” Essas habilidades incluem desde o arranjo físico e social do ambiente até a estimulação, monitoria e feedback do desempenho dos alunos. Assim, com essas condições de ensino e uma capacitação adequada, além de melhorar a aprendizagem acadêmica e o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, o professor pode fomentar a prática e o aperfeiçoamento desses alunos nas características citadas inicialmente e em muitas outras – habilidades de empatia, assertividade, cooperação, autocontrole, falar em público, trabalhar em grupo, lidar com críticas e solucionar problemas.

Cursos em habilidades sociais

Para alcançar essa realidade, a partir desses estudos e pesquisas, Zilda Del Prette e Almir Del Prette, também docente vinculado ao PPGPsi, e sua equipe, criaram iniciativas que capacitam professores em habilidades sociais. Uma delas é o curso “Habilidades sociais na escola mediadas pelo professor”, um programa de formação continuada ofertado a distância, com 120 horas. A atividade, voltada a professores do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, é composta por embasamento conceitual sobre habilidades sociais (textos especialmente produzidos para os professores), exercícios de análise de interações sociais, exposição a vídeos ilustrativos e tarefas interpessoais que requerem a prática de habilidades sociais e de habilidades sociais educativas. “Por exemplo, ao aprender sobre empatia, o cursista é solicitado a analisar situações de interação e também a interagir empaticamente com pessoas fora do ambiente escolar. Na escola, é solicitado a exercer seu papel de suporte emocional dos alunos e criar condições de ensino de empatia”, descreve. A docente relata que pesquisa subjacente ao curso tem como objetivo testar se programas de habilidades sociais com efetividade comprovada em contexto presencial são também efetivos via educação a distância (EaD), o que justificaria sua disseminação em ofertas mais amplas.

A iniciativa já está em andamento, com previsão de atendimento a professores de mais de 50 escolas – públicas e particulares –, predominantemente de São Carlos (com 15 instituições participantes), mas que também envolvem mais 22 cidades – Americana, Araraquara, Cosmorama, Descalvado, Dourado, Ibaté, Iracemápolis, Itapetininga, Itu, Jundiaí, Laranjal Paulista, Limeira, Mococa, Piracicaba, Porto Ferreira, Ribeirão Bonito, Ribeirão Preto, Rio Grande da Serra, Santo André, São José do Rio Pardo, Sorocaba e Votorantim. Segundo Del Prette, há avaliações contínuas das aquisições dos docentes, bem como do impacto sobre os alunos, em termos de indicadores de desempenho acadêmico e de desenvolvimento socioemocional. 

Além desta iniciativa, projeto semelhante é aplicado junto a professores da Educação Infantil, conduzido por Talita Pereira Dias, que realiza seu pós-doutorado no PPGPsi, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sob supervisão de Zilda Del Prette. “Ele é particularmente relevante para a Educação Infantil, pois a escolarização da criança pequena deve ser focada mais no desenvolvimento socioemocional do que no acadêmico”, explica a supervisora. Este curso é presencial, com 110 horas, e é ofertado a 20 professores e seus alunos, o que totaliza cerca de 400 crianças de seis escolas públicas municipais de Passos (MG). “Os resultados preliminares mostram efetividade do curso sobre os professores, mas a avaliação completa ainda está sendo processada e inclui avaliação do desenvolvimento socioemocional das crianças pelos pais”, explica a docente.

Há, também, outras iniciativas esporádicas de capacitação, como a “Orientação Técnica em Habilidades Sociais e Desenvolvimento Socioemocional para vice-diretores e coordenadores pedagógicos”, realizada a pedido da Diretoria Regional de Ensino de São Carlos. Iniciada com o total de 12 horas, envolveu 25 vice-diretores e 38 coordenadores pedagógicos, contemplando 30 escolas de anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. “Essa demanda reflete o interesse dos educadores na temática socioemocional e, também, a preocupação em atender as exigências da atual política educacional. Já acertamos uma continuidade dessas ações em 2020 junto à Diretoria de Ensino”, conta a pesquisadora.

Sobre o INCT-ECCE

O tema de investigação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino (INCT-ECCE) é a aprendizagem de relações, especialmente de relações simbólicas e conceituais. O ECCE também vem explorando as implicações das descobertas em seu campo de estudos para a formulação, implementação e avaliação de programas de ensino de habilidades e conceitos acadêmicos, voltando-se, particularmente, para populações desafiadoras, com necessidades educativas especiais. O Instituto é financiado – no âmbito do programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) – por convênio entre a Fapesp e o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, por intermédio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Mais informações em https://inctecce.com.br.